Admitir nossas inseguranças é a salvação dos nossos problemas
Somos uma sociedade com muitos defeitos, muitos dogmas, muitos preconceitos. Somos uma sociedade que fabrica pessoas inseguras o tempo todo, e tenta remediar essa insegurança com soluções totalmente ineficazes. A gente tenta tamponar as inseguranças com pensamentos como “é preciso ter coragem”, “não pode ter medo”, “seja forte”, “acredite em você”. Esses pensamentos como forma de curar nossas inseguranças são o mesmo que tomar antialérgico para curar enxaqueca. Não faz efeito.
A maioria de nossas inseguranças são incutidas em nós ainda crianças, seja por pais autoritários, pais ausentes, brigas no lar, pais que não davam a devida atenção, ou qualquer outro trauma em casa, na escola, na rua que vão dentro das particularidades de cada um.
O fato é que ter alguma insegurança é normal, o problema é que a nossa sociedade reage completamente mal a isso. A gente vive em uma sociedade em que admitir fraqueza é errado, é feio. As pessoas têm vergonha até de admitir que não sabem as coisas. Dizer “eu não sei” diante de uma pergunta é algo que nos afeta pessoalmente.
A gente cria um ciclo vicioso: quanto mais inseguro eu sou, mais eu tento tamponar a minha insegurança com atitudes imediatistas e, na imensa maioria das vezes, prejudiciais.
Ciúmes: o ciúme é a mais comum demonstração de insegurança emocional. A pessoa tem medo de perder seu parceiro(a) para qualquer outro, porque é inseguro. Vê ameaças em todos os lugares, em todos os olhares, em todas as mensagens, em todo contato do outro com alguém. Se sentir ameaçado é um claro sinal de insegurança.
Relacionamento abusivo: é, ao meu ver, a mais clara demonstração de insegurança. A pessoa tem auto-estima tão baixa, é tão desacreditada de seu próprio potencial de manter no outro o interesse por si, que precisa controlar a pessoa. Controlar suas roupas, controlar com quem ela fala, com quem ela sai, que horas ela volta.
E nem sempre o inseguro parece inseguro, pelo contrário. A gente pensa que alguém inseguro é alguém acuado, com medo, num canto, porém é muito comum o inseguro ter uma atitude bastante expansiva, autoritária, agressiva, porque ele precisa criar esse personagem justamente para mascarar e fugir da sua insegurança.
É muito comum o inseguro ser vaidoso, ser cheio de si, ter um lindo carro, porque ele precisa maquiar essa casca para mascarar a sua insegurança, para tentar atingir um nível de percepção perante os outros que, na cabeça dele, fará com que ele seja bem visto, respeitado. O narcisismo é uma característica muito presente em inseguros.
Destratar pessoas: o hábito de destratar o outro é uma característica muito comum do inseguro. Quando alguém que tem muito dinheiro destrata um frentista ou um garçom, é porque essa pessoa é insegura e precisa sempre rebaixar um “subalterno” para mostrar pra si mesma que ela está acima do outro e tem poder sobre o outro.
Não acontece somente entre pessoas de classes sociais diferentes. Muita gente tem um amigo que tá sempre rebaixando os próprios amigos, ou tentando se mostrar como alguém superior exalando demais seus êxitos. No fundo, um inseguro.
Machismo: quem quer que a mulher não trabalhe, fique em casa, não dirija carros, não seja independente, seja submissa ao marido ou tenha de obedecer regras ditadas pelo marido é claramente inseguro. É o medo de que o outro indivíduo ganhe força, se empodere, tenha igualdade. Machismo está claramente associado à insegurança, o machista pensa que se a mulher for inteligente demais, beber demais, entender muito de muitos assuntos e se vestir como quiser, ele perderá a chance de ter o controle dessa mulher, e o inseguro quer ter controle sobre outro pois acha que só assim consegue manter alguém perto dele, já que a insegurança o faz pensar (inconscientemente) que ele não é interessante para manter alguém por perto por livre e espontânea vontade.
Quem é seguro de si não tá nem aí se a mulher trabalha, ganha bem, sai bonita, bem vestida. Quando eu namorava e viajava pra fazer show, depois do show eu ia com a minha equipe pra algum barzinho na cidade, minha namorada, que ficava em Belo Horizonte, ia com as amigas em algum bar, festa ou balada, sem que um tivesse que pedir autorização do outro, porque éramos pessoas muito seguras. Muitas vezes no outro dia é que a gente ia conversar pra saber como tinha sido o dia do outro e então falávamos o que tínhamos feito. Uma liberdade assim é inimaginável em muitos relacionamentos, relacionamentos de pessoas inseguras.
O fato é que nós somos inseguros e não é culpa nossa. Mas enquanto a gente continuar fugindo da insegurança, tiver medo de se admitir frágil, tiver vergonha de procurar a ajuda de um psicólogo (muitas vezes até por medo de ter que concluir que estava errado), a gente vai só aumentar o abismo dessa insegurança.
Pensa comigo: o cara é inseguro e quer controlar a namorada. Ele consegue por um tempo, até que ela se liberta e ele perde ela. O sofrimento será tão grande que ele vai entrar no próximo relacionamento ainda mais inseguro e ainda mais controlador. O buraco só aumenta.
É preciso abrir mão do apreço por ter razão, admitir as próprias inseguranças e procurar ajuda de um terapeuta. Não há outra fórmula, não tem como se curar de inseguranças enraizadas no inconsciente sozinho. O inseguro viveu a vida inteira fugindo de sua insegurança, tamponando-as com roupas caras, carrão do ano, atitudes hostis, agressividade, controle sobre pessoas. Vai ser preciso um psicólogo para ajudar essa pessoa a se ouvir, identificar a raiz de seus problemas e traçar novas estratégias.
Terapia arde, mas a vida só melhora.