Precisamos urgentemente universalizar a terapia, por uma sociedade menos tóxica
Faço terapia há quase 3 anos e sempre afirmei que foi o melhor dinheiro já investido na minha vida. Passei diversos apertos financeiros nesse período, cortei diversas despesas, mas sempre preservei o dinheiro da terapia. É um investimento que muita gente julga desnecessário (por mero desconhecimento) que é o auto-conhecimento e o tratamento dos meus problemas internos.
Quando digo que faço terapia, é muito comum alguém questionar:
– Ué, você? Você precisa de terapia?
E a minha resposta é: você não? Você não sofre por nada? Não tem nada que te rouba a mente vez por outra? Não tem nenhuma atitude sua que te incomoda? Não tem nenhum parente seu que você precisava ter uma relação melhor? Tá tudo ótimo no seu relacionamento amoroso?
Em outro texto aqui desse blog eu falei sobre como a negação das nossas inseguranças emocionais causa enorme parte dos problemas que temos. Todos nós temos inseguranças, porém quando a vida vem com essa obrigação de ser forte, guerreiro, olhar pra frente e nunca fraquejar, a gente ignora a insegurança e segue adiante. Mas a insegurança não tratada é como um carro com pneus desalinhados: vai incomodar o tempo todo e diante de uma situação extrema vai causar problema.
A insegurança incomoda o inseguro, e ele precisa dar um jeito nisso. O jeito encontrado é sempre agir com veemência, com certeza de algo, pra não dar espaço para a insegurança. Aí temos pessoas controladoras, ciumentas, manipuladoras, sem resistência à frustrações, autoritárias, entre outra série de problemas. São pessoas que, por não estarem bem consigo, acabam causando o mal em quem está a sua volta, ao brigar com o parceiro por ciúmes, ao exercer controle excessivo sobre a esposa, ao ser autoritário demais com os filhos ou subalternos. Em uma reação em cadeia, quem sofre ações dessas pessoas também se abala, também cria inseguranças, e lá vamos nós pro desfiladeiro.
A merda, parceiro, é que a gente vive em uma sociedade que não permite inseguranças. Se você for inseguro você é fraco, é mal visto, não é selecionado para pertencer aos grupos quando o ser humano precisa muito pertencer a grupos. Aí o ciclo vicioso termina de empurrar a gente pro buraco, porque se torna feio admitir que precisa de uma terapia em um mundo em que bonito é ser o fodão.
O que os falsos seguros não sabem é o quanto é bom admitir com tranquilidade as inseguranças. Eu mesmo sou mau motorista, não proporciono muito conforto aos meus passageiros e estaciono lá longe em uma vaga com espaço pra não ter que fazer baliza em uma vaga mais perto.
Meu colega de apartamento reclamava quando eu esquecia uma lâmpada acesa ou um aparelho na tomada, até que um dia, pacientemente, eu disse a ele:
– Você tá certo de reclamar, mas é que meu cérebro tem um percentual de falha. 5% das vezes que eu acender a lâmpada eu vou estar com a cabeça em outra coisa, pensando alguma ideia, e vou esquecer acesa. Você pode reclamar, mas não vai adiantar.
Foi uma solução leve e ele parou de reclamar.
A gente vive em um mundo em que todo mundo é bom de cama, todo mundo nunca usou viagra, nunca brochou, tem um órgão genital de tamanho excelente, nunca decepcionou um parceiro. Todo mundo tá mentindo, porque é normal as coisas darem errado na cama. Não admitimos porque ser uma pessoa que falha na cama fere fundo a autoestima do indivíduo.
A única solução para termos uma sociedade menos tóxica é tratar as causas dos problemas, no caso os traumas e inseguranças internos, e o único jeito de fazer isso é procurando uma terapia. Tem gente que usa coach como paliativo à terapia, porque coach é um profissional que te faz ser melhor, que te mostra que você é bom, que você é forte, que você pode e que você é capaz. Ok, pode ser bom mesmo alguém que te mostre isso, mas incentivar alguém com inseguranças não tratadas a seguir em frente, a ser mais forte, mais poderoso, é como colocar mais potência no carro que está com os pneus desalinhados. Só vai criar mais problema e mais risco de acidente.
Se 15% do Brasil fizesse terapia, essa sociedade seria exponencialmente melhor. Um pai que faz terapia é um pai que não desconta suas inseguranças exercendo um controle excessivamente machista sobre a filha, logo teremos uma filha com menos traumas, menos insegura, que terá menos problemas em seus relacionamentos amorosos e ao criar seus futuros filhos. Ou seja, a terapia do pai fez com que ele causasse menos problemas pra filha e com que a filha causasse menos problema em seus círculos sociais.
Um pai que faz terapia aprende que é normal termos falhas e inseguranças, e não vai dizer à filha que ela deve “parar de frescura” quando estiver diante de um problema, pelo contrário, vai ter uma atitude compreensiva e minimamente inteligente. A filha saberá que é normal fraquejar e não vai exigir perfeição de seus namorados, filhos e funcionários. Aos poucos a gente vai criar uma sociedade em que é normal fraquejar, uma sociedade mais disposta a lidar com seus erros, e não a jogar sobre eles uma pá de terra, que é como jogar terra sobre o pântano.
Tratando um, a gente trata vários.
Eu ainda não sei como é que nós vamos universalizar a terapia, mas tenho pensado e estudado muito sobre isso. Pretendo aos poucos usar a audiência que tenho para investir em ações de conscientização pró-terapia, até quem sabe um dia criar um instituto com essa finalidade.
O principal problema do meu objetivo é que não dá pra botar numa terapia quem não quer estar na terapia. Pra ir pra terapia você precisa estar disposto a rever seus conceitos, a se ouvir, a descobrir que está errado e a fazer algum esforço para mudar suas atitudes pois, como dizia Betinho Einstein, ninguém consegue resultados diferentes repetindo as mesmas estratégias.
Porém eu acho que a gente consegue ir aos poucos conversando com aqueles que não estão tão pra lá da fronteira, e que podem ser trazidos para o lado terapêutico da força.
E se você leu esse texto é porque simpatiza com a ideia da universalização da terapia. Se não faz terapia ainda, faça. Colabora aí com a minha causa pra ela andar pra frente. Precisamos atingir a meta do Instituto Stevan Gaipo de Universalização da Terapia que é de botar 31 milhões de brasileiros na terapia.
Vou deixar um artigo aqui que tem 10 dicas de como encontrar um bom terapeuta. A primeira dica diz que é bom pedir indicações aos conhecidos, para que indiquem os terapeutas deles.
Vou indicar as minhas:
A primeira que tive foi a Rejane, fiz terapia com ela ao longo de dois anos de muita evolução. Ela se mudou para Portugal e eu interrompi o processo pois gosto de terapia cara a cara. Mas se você gostar da ideia de terapia online, ela é ótima. O Instagram dela é @rejsant.
A minha terapeuta atual é a Marena, muito boa de serviço. Cada sessão termina com eu falando “Nossa, Marena, você é muito boa nesse trem de terapia”. Ela atende próximo ao Shopping Cidade em Belo Horizonte e o instagram dela é @marenapp.