O artista é o verdadeiro funcionário público

O verdadeiro concurso público é aquele por qual passa o artista que conquista espaço para falar ao público. Esse é um concurso difícil, ingrato, e o pior: sem edital. Não está escrito em documento nenhum de que maneira o artista será avaliado, quais habilidades serão necessárias e nem que dia será a prova. Nesse concurso o postulante apenas prova incessantemente que é bom no que faz, até o dia em que a sociedade achar que deve aprová-lo, convocá-lo ao cargo e passar a pagar pelo enorme benefício que seu trabalho gera.

Como bem disse meu amigo Paulo Araújo, “a sociedade paga muito bem ao artista para que faça algo que ela própria não sabe fazer”.

Alguém um dia pensou:

Seria fantástico se eu pudesse acordar pela manhã e imediatamente assistir a uma banda de excelentes músicos, dentro do meu quarto, executando uma lindíssima composição.

Seria maravilhoso, mas inviável. A própria pessoa não sabe tocar e cantar para satisfazer a si mesma. Seu marido também não sabe, a família também não sabe, e contratar uma banda de verdade para dormir no quarto e tocar no outro dia cedo é impensável.

Foi aí que o Freddie Mercury e o Queen serviram como uma luva, já que solução encontrada foi eleger algumas centenas de excelentes músicos para inundarem todo e qualquer momento dos indivíduos com maravilhosas canções, em variados estilos, em um aparelho intermediador chamado rádio. Esses músicos foram aprovados no concurso para serem funcionários públicos, assim sendo o público paga a eles muito bem para que dediquem as suas vidas a aprimorarem as canções.

A sociedade é uma mulher que vira uma esquina, avista um violinista em sua brilhante performance e diz:

– Muito bom isso aí que você fez. Você poderia nos fazer isso sempre, para muitos de nós?

– Uai, moça, depende do horário, porque de dia eu trabalho no Ponto Frio.

– Não, entenda: a gente vai te pagar muito bem, muito mais do que você ganha hoje, pra você fazer só música. Você vai largar o Ponto Frio e vai fazer canções. É que nós adoremos essa sua música e não conhecemos outra pessoa que saiba tocá-la, então vamos pagar pra você.

E assim ela seleciona músicos, comediantes, escritores, atores, pintores, trapezistas, malabaristas, dançarinos, e outra infinidade de profissionais que vão causar nas pessoas sensações muito únicas, que só os artistas sabem causar.

Os grandes artistas, similares aos funcionários públicos de alto escalão, são inclusive muito bem pagos, porque muita gente se beneficia do trabalho deles e paga por isso. Esses artistas chegaram a um nível de funcionarismo público que deu a eles estabilidade, ótima aposentadoria, plano de saúde de primeiríssima linha e outros benefícios inacessíveis ao funcionário público governamental convencional.

Assim colocado em escala, podemos concluir que o artista é o verdadeiro funcionário público, a quem a sociedade selecionou para beneficiá-la com seu trabalho.

Stevan Gaipo.