Estamos vivendo a era do “auge do egoísmo”
Há muito tempo eu vinha refletindo sobre a mutação no egoísmo das pessoas. Cada vez mais as pessoas não são egoístas apenas por só pensarem em si mesmas. Agora elas são egoístas pois se importam com os outros e com diversas causas, mas na verdade só querem inflar o próprio ego dizendo para si e para o mundo que são boas pessoas.
Belo dia estava ouvindo no busão uma entrevista do Raul Seixas e do Marcelo Nova no extinto Jô Soares Onze e Meia, do SBT. Papo vai, papo vem, Jô pede para Raul e Marcelo cantarem, e eles cantam a música Carpinteiro do Universo, que era lançamento na época, contendo a frase: “Meu egoísmo é tão egoísta que o auge do meu egoísmo é querer ajudar”. BINGO! GÊNIO! Era disso que eu estava falando, mas não havia chegado a essa síntese tão precisa e perfeita de pensamento.
Quando houve a tragédia em Brumadinho, vi vários empresários e empresas irem às redes sociais dizer que suas empresas estavam arrecadando doações para Brumadinho. Eles então convidavam seus clientes e amigos a deixarem os donativos na empresa. Uma atitude bastante humana, não é mesmo? Seria útil caso não fosse feita DIAS DEPOIS de TODOS os jornais terem informado que Brumadinho não precisava de donativos, e que qualquer doação seria excessiva e poderia perecer. O problema de Brumadinho não era de falta de abastecimento.
Ou seja, o empresário, inflado por seu falso espírito de ajuda, imediatamente criou sua corrente do bem para angariar doações, sem se dar ao trabalho de pesquisar na internet ou junto aos órgãos competentes de que tipo de doação Brumadinho precisava. Se ele tivesse feito essa rápida pesquisa, teria descoberto que Brumadinho não precisava de nada. Era o que diziam várias matérias escancaradas no Google.
Como a gente define a atitude de quem quer ajudar sem perguntar se o outro precisa de ajuda? É o mais complexo nível de egoísmo. Se você quer ajudar o outro sem consultar o outro, então não é para o outro que você está fazendo, é para si mesmo.